18 de fevereiro de 2013

Weight.


Fecho os olhos, são segundos, segundos que parecem horas. Mesmo de olhos fechados, segundos, horas. A garrafa de Black Label abre-se no entretanto, quase sozinha, quase como se tivesse vida própria, quase como se estivesse a respirar por entre o vidro, por entre o oco. Os cigarros – confesso-me voltado para o Marlboro, novamente – admiram o líquido dourado que repousa no copo: assistir a um Tango, em que ambos são corpos lânguidos, vestidos a rigor.
A minha vontade de dormir é imensa, os olhos quase fechados, a doerem, a cabeça pesada, o corpo a desfazer-se na cadeira, as mãos a tremerem: assim aparece a insónia, como uma Menina sedutora na nossa campainha e toca, toca e volta a tocar e começa a bater na porta, leve, com os dedos, abrindo a mão, com a mão aberta, fechando-a, bate na porta de punhos cerrados, nada a impede, a birra de Menina Mimada que deseja a porta aberta. Acabamos por abrir a porta e reparamos que a Menina Mimada usa saia, usa meias de liga, tem um sorriso do tamanho do mundo e entra e leva-nos para a parede, vincada dos seus desejos, ajoelhando-se em suspiros: És meu! Pertences-me! Estás em pé ao meu desejo, ao meu dispor. E voltas a fechar os olhos, não com aquela imagem no pensamento, não com aquela Menina Mimada de saia e meias de liga, ajoelhada; não com aquela Menina Mimada de saia e meias de liga, ajoelhada e as tuas calças pelos joelhos; com outras imagens, com outras pessoas, com outra pessoa, grunhes entre os lábios outro nome, grunhes entre os lábios outra imagem, grunhes entre os lábios outra mulher, grunhes o copo já vazio, grunhes a memória que queres arrancar e queimar enquanto acendes outro cigarro. E, para tua surpresa, ela diz-te: Quero que me chames de tua, Quero que me chames de tua Puta! Na exactidão da palavra, na exactidão do tempo, abraças os seus cabelos, és dela, sou dela, somos dela.
Esperas que o telemóvel toque: doença, esta! Esperar que um telemóvel toque. Esperas, olhas, voltas a esperar, esperas que entre algo, que uma luz pálida se acenda como uma vela, como uma esperança, como um farol. Esperas com o telemóvel em cima de um livro, um pisa-papel. Nada. Silêncio. Silêncio como as ruínas que nascem entre os teus pés, as ruínas que o teu chão tijolo constrói, as ruínas em silêncio, em silêncio de todo o tipo de silêncios, em silêncio de nada, um nada. Perguntas-te: como guardo eu um nada? Como guardo eu um nada em forma de silêncio? Como aprendo eu a guardar um silêncio em forma de nada?
Acabas por sentir que estás na tua cruz e tentas convencer-te: não é nada, está tudo bem, está sempre tudo bem. Desculpa, estás errado: não está tudo bem enquanto está a abraçar os cabelos daquela Menina Mimada que usa saia e meias de liga, por entre as tuas virilhas. Não, não está tudo bem. Está tudo em silêncio quando não deveria, estás a tentar aprender a guardar um silêncio em forma de nada e um nada em forma de silêncio enquanto grunhes encostado a uma parede, a uma parede branca, com as tuas calças pelos joelhos, com a garrafa de Black Label em cima da mesa, com o maço de Marlboro a galar o líquido dourado. Não, lamento mas não, não está tudo bem. Não está tudo bem quando as tuas mãos são elevadas a uma cruz e e resumes o silêncio mordaz em cima de um livro e pensas em outra pessoa, em outra mulher, em outro nome e não gritas a exactidão da palavra, a exactidão do tempo, enquanto tudo o que esperas são letras em fundos azuis ou cinzentos com um: errei. perdoa-me. admite-me. sou-te. desculpa-me.





És débil: não por quereres, mas por acreditares.


6 de fevereiro de 2013

Hunters.


não aguardas a palavra nasce rápida crua nasce como uma tempestade na ponta dos teus dedos na ponta dos teus lábios rasga-te dilacera-te empurra-te contra uma parede em fome em voracidade respiras em socorro porque encontras o abismo em todas as suas fendas olhas e reparas que as memórias transformaram-se em sombras olhas para o chão e ves que essas sobram deixam marcas com os seus pés marcas em pele marcas em tinta tentas a música mas a música não está a falar a música tem a boca costurada esperas por ela mas





[ela]





não sabe como esperar-te não sabe como colocar as imagens não sabe como colocar as memórias não sabe como colocar a pele não sabe como colocar as sombras mas sabe que guarda as fendas e os abismos sem saber que guardou um mundo





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