16 de dezembro de 2012

Sin.


Pousa o copo, acende um cigarro, respira entre os dentes:


 - O Pecado Original não começa na Carne, começa no Sentimento. O problema do Sentimento é o canibalismo. Sentir é algo Canibal. É algo que guarda o teu Corpo entre os Dentes na prontidão de o dilacerar a qualquer instante





.


24 de novembro de 2012

Geography.


Não tenho mãos para desenhar, bem o sabes.

Se as tivesse, serias a minha [perfeita] geografia

.

 

4 de outubro de 2012

Dawn.


Tiras a camisola, deixas pelo chão. E pouco antes de adormeceres:


"I could use a friend to say they love me
But im gonna make a sound you cant forget

and afterwards I swore that I would haunt you
Now im way to tired to give a shit"







2 de outubro de 2012

Grey.


Era preto e vermelho, acho. Usava a Primavera como fragância. Dava-me a mão, como quem dá a mão a uma criança.





Não existe maior Maldição. A Maldição de metamorfosear alguém em palavras. É oferecer-lhe a imortalidade.


30 de setembro de 2012

Set.


Usava fogo por cabelo.
Via a noite arder naqueles fios claros, como um Sol a afogar-se.


Naquela mistela de cores, os olhos:
                                                   berlindes, em verde, em castanho,
                                                   berlindes cobertos com manchas de sonhos.


E dentro de um cesto todas as imagens desapareceram, fugiram na imensidão daquela estrada de estrelas alinhadas como militares, onde um coração de lata boceja.




 

O mundo despe-se, abre o peito, guarda-me as mãos


.

Sunday.


Solidão não é termo ou conceito ou até significado. É vida. É existência ermita. Tem barba. Tem resina. Tem o Mundo


.

 

Bang.



Dou razão ao D., a nostalgia pelo desastre deveria ser banida


.


3 de setembro de 2012

Tuesday.


Acampei no parelelo que nasce em frente da tua Porta. Horas com o telemóvel na mão. Tinha um daqueles fogões de campismo e uma quantidade considerável de ração de combate. Subi a uma Árvore de braços musculados. Fui um animal selvagem com os Olhos pintados de Vermelho e usava Gravatas como Camisola.
Estavas doente nesse dia. Tossias todas as letras que te ofereci. Tiraste a tua Face. A tua Dentadura dentro de um copo com Água. A tua Pele recheada de brilhantes e purpurina.
Olho o Estafeta, de cicatriz, a quem chamas de Enfermeiro e espero de toda a minha alma que tenhas encontrado o teu Deus arrumado entre as Almofadas.


As Terças foram dias de Sol e Ficção. 





Nasce a Noite. A Lua é uma Roda Dentada.


28 de agosto de 2012

Hung (er).


A cama confunde-se com o chão. 
Não existe uma silhueta distinta. Não existe cama. Não existe chão. 
Existe uma nuvem carbonizada.
Os pés que entram devagar, pela sombra. Sim, este quarto tem sombra e eco. O corpo não me fica por esta confusão: arrasta-se, já que o sono é uma memória e as mãos enchem-se de pequenos duendes esverdeados.

O sentimentalismo é uma traição dos sentidos, talvez a maior delas. Não é difícil ou complicado entender este conceito. O sentimentalismo é uma traição dos sentidos. Não é talvez, é a maior delas. A dormência que o mesmo desembrulha quando olhamos curiosos, bem sorridentes. 
Esperamos que seja um barco - daqueles que salvam vidas, laranjas e amarelos. Confirma-se a parte do barco, mas sem motor e - foda-se! - não sei nadar, nem tenho as braçadeiras coloridas.

O tacão do teu sapatinho de cristal do pé esquerdo estilhaçou-se sem reparares e o meu programa de voluntariado, tal como hoje, findou pela validade: Peço desculpa pelo incómodo mas todos os produtos alimentares foram retirados das prateleiras por motivo de força maior.





A servidão usou o tamanho L.


emagreci
o teu nome foi Fome
e os Alfaiates estão de baixa médica


.


Were.


mão direita mão esquerda mãos mãos unidas mãos com dedos entrelaçados mãos sobrepostas mãos que se confundem mãos que se unem mãos que se abraçam mãos que se entregam mãos que se agarram mãos que se recolhem uma na outra mãos que se abrigam mãos sem nome mãos sem idade mãos que consideram o tempo uma inutilidade mãos dadas


mãos





- As tuas Mãos não são Mãos. São duas Florestas.


27 de agosto de 2012

White Flag.


uma central de autocarros uma entrada uma Senhora sentada em uma cadeira ao lado de uma Porta de madeira e vidro um telemóvel na minha mão


Dá-me um segundo. Peço desculpa, sabe-me dizer se isto está fechado?
Penso que não Menino, estão ali as Meninas e uma delas saiu mesmo agora.


um passo em frente uma conversa de trabalho uma mulher que se aproxima


Posso ajudar?
Será que podia?


um envelope  um cartão de visita na abertura fácil


Claro que posso!
Obrigado.





rendo-me


26 de agosto de 2012

Closed.


Serena, II


(...)


this clonic earth

see-saw she is blurred in sleep
she is fat half dead the rest is free-wheeling
part the black shag the pelt
is ashen woad
snarl and howl in the wood wake all the birds
hound the harlots out of the ferns
this damfool twilight threshing in the brake
bleating to be bloodied
this crapulent hush
tear its heart out

in her dreams she trembles again
way back in the dark old days panting
in the claws of the Pins in the stress of her hour
the bag writhes she thinks she is dying
the light fails it is time to lie down
Clew Bay vat of xanthic flowers
Croagh Patrick waned Hindu to spite a pilgrim
she is ready she has lain down above all the islands of glory
straining now this Sabbath evening of garlands
with a yo-heave-ho of able-bodied swans
out from the doomed land their reefs of tresses
in a hag she drops her young
the whales in Blacksod Bay are dancing
the asphodels come running the flags after
she thinks she is dying she is ashamed

she took me up on to a watershed
whence like the rubrics of a childhood
behold Meath shining through a chink in the hills


(...)





- Samuel Beckett


Personal Note, # 4.


Ironia:
         ser obrigado a passar todas as madrugadas pela tua Santa Terrinha.







Wd.


The Conspiracy


You send me your poems,
I'll send you mine.

Things tend to awaken
even through random communication

Let us suddenly
proclaim spring. And jeer

at the others,
all the others.

I will send a picture too
if you will send me one of you.
 
 
 
 
 
- Robert Creeley
 
 

24 de agosto de 2012

Box.








Pale.


uso a tua língua para limpar os meus lençóis


a casa está um caos                                                   atirei para a lareira os teus chinelos
                                                                                                             e as tuas meias
brindei-me com a sala vazia


em dias de chuva os meus dedos deslizam na vontade de te encurralar
em madeira escura


.


Superman.


II, Crucifix in a Deathland


(...)


the dark is empty;
most of our heroes have been
wrong


(...)





- Charles Bukowski


23 de agosto de 2012

Cage.


Um dia 

(d)                                                                                                  escrevo-te



a preto e branco





o teu nome irá afogar-se em todas as cores


.

 

21 de agosto de 2012

Stand.


Abro uma gaveta da mesa de cabeceira. Aguardo, cada vez com menos paciência, que tires toda a tua maquilhagem e a guardes, fechada a sete ou oito ou até nove chaves.



Estou cansado de deitar-me com o teu vestido todas as noites enquanto as tuas estrelas são mordidas por outros homens.


Pinta-te de Azul e sopro-te, novamente:

Até amanhã Querida.


14 de agosto de 2012

It.


parei por 4 minutos lembrei-me que ainda existias o tempo deveria matar a tua presença mais depressa deveria comer a tua pele e carne e olhos e lábios pintados e música
deverias ser um E.T. sem telefone para casa sem bicicleta sem dedos

deverias ser um semáforo

deverias ser nada

.


11 de agosto de 2012

Personal Note, # 3.


Não foi uma questão de paciência: sempre existiu, sempre esteve lá, sempre intacta. A tortura da crença, do acreditar, o conceito com outro nome qualquer ou até desculpa.

E agora, repara, tudo está conforme o previsto.

Como tenho vindo a repetir, por vezes, precisamos de saltar em fé para um abismo com dois metros ou um metro de profundidade.

Cerrar os olhos
respirar fundo
perder o pé

.



- Vou entreter-me, tal canibal, a roer os ossos das tuas palavras.


14 de junho de 2012

And.


Fools Die


(...)


I want to tell you a story, I have no other vanity. I don’t desire success or fame or money. But that’s easy, most men, most women don’t, not really. Even better, I don’t want love.When I wasyoung, some women told me they loved me for my long eyelashes. I accepted. Later it was for my wit. Then for my power and money. Then for my talent. Then for my mind — deep. Ok, I can handle all of it. The only woman who scares me is the one who loves me for myself alone. I have plans for her. I have poisons and daggers and darkgravesin caves to hide her head. She can’t be allowed to live. Especially if she is sexually faithful and never lies and always puts me ahead of everything and everyone.


(...)





- Mario Puzo

12 de junho de 2012

Notebook, # 8.


Eva nasceu da necessidade de personificar o Pecado. O pairi-daeza guarda um Vestido preto e uns Sapatos vermelhos atrás de uma Macieira.


11 de junho de 2012

Furnished room.


Steppenwolf
"For Madmen Only"


(...)


He who has known the other days, the angry ones of gout attacks, or those with that wicked headache rooted behind the eyeballs that casts a spell on every nerve of eye and ear with a fiendish delight in torture, or soul-destroying, evil days of inward vacancy and despair, when, on this distracted earth, sucked dry by the vampires of finance, the world of men and of so-called culture grins back at us with the lying, vulgar, brazen glamor of a Fair and dogs us with the persistence of an emetic, and when all is concentrated and focused to the last pitch of the intolerable upon your own sick self--he who has known these days of hell may be content indeed with normal half-and-half days like today.
Thankfully you sit by the warm stove, thankfully you assure yourself as you read your morning paper that another day has come and no war broken out, no new dictatorship has been set up, no particularly disgusting scandal been unveiled in the worlds of politics or finance. Thankfully you tune the strings of your moldering lyre to a moderated, to a passably joyful, nay, to an even delighted psalm of thanksgiving and with it bore your quiet, flabby and slightly stupefied half-and-half god of contentment; and in the thick warm air of a contented boredom and very welcome painlessness the nodding mandarin of a half-and-half god and the nodding middle-aged gentleman who sings his muffled psalm look as like each other as two peas.


(...)





- Hermann Hesse

Notebook, # 7.


"If only I had an enemy bigger than my apathy, I could have won."





2 de junho de 2012

Pack.


Orlanda Blues
3RD Chorus


This book is too nice for me
They made Clay Felker editor
of Esquire
Or Rust Hills one
and what ever happened to glass
and the joke about the Lord.

The Lord is my Agent.
My message is blah blah blah
My yort tackalitwingingly
  pasta vala tt, yea, p,
  my reurnent gollagigle
  dil plat most-rat, my
    erneealieing cralmaa
    tooth, ant, mop, sh,
  my devoid less 2 immensity
  secret muzning midnight,
  my whatzit
            you wanta
                  know
                       Whatzit!
       Joy    Look out!





- Jack Kerouac


Burst.


A          braço          (s) 
                                        com o teu Nome


a tua sombra arrasta          -se


pela berma do
pelo abismo do                               chão copo sofá
pelo limite do


otnauqne


descascas 
a lua         tal maça
 
transformando os teus dedos em maré          (s)


1 de junho de 2012

Flame.


Casabianca *


Love's the boy stood on the burning deck
trying to recite "The boy stood on
the burning deck." Love's the son
        stood stammering elocution
        while the poor ship in flames went down.

Love's the obstinate boy, the ship,
even the swimming sailors, who
would like a schoolroom platform, too,
        or an excuse to stay
        on deck. And love's the burning boy.



* (...) The boy had remained on the burning ship during the 1798 Battle of the Nile (a decisive defeat for Napoleon), thinking that his father, the admiral, had not released him from duty.





- Elizabeth Bishop

29 de maio de 2012

Specs.


As being is to begin.


Laid down among the signs a self assigned. Decided it was only ever
upward unto nothing, grass and wildfl owers, each stem the very thread
of trembling, as little weight as color on the eye. Th ere was an order you
could choose to enter, another, in doing so, to leave. You were, as before
a river or tree decides to branch.





- Brian Teare


Notebook, # 5.


um bacteriostático míope do seu propósito: Placeless.





28 de maio de 2012

Fingers.


roubei a tua porta de entrada
o teu cabelo é branco e fogo
Quando o teu mundo é azul céu, pintas-me os olhos de amarelo e suspiras-me:


ninguém


Ainda, partir
- te
guardar
- te
no bolso das palavras;


fragil
mente.




25 de maio de 2012

Pictionary.


The motivation of the poem must be derived from the implicit emotional dynamics of the materials used, and the terms of the expression employed are often selected less for their logical (literal) significance  than for their associational meanings.





- Hart Crane


White.


Escrever, por vezes, é Epiderme. Escrever, por vezes, é Pele. Escrever, por vezes, é a Camada exterior que envolve toda a nossa carne, que nos pinta em vários tons. Escrever, por vezes, é o maior Órgão do corpo humano. Escrever, como Pele. Escrever, como Epiderme. Escrever, como Camada. Escrever como Órgão. Olhar, o protector Solar esquecido em casa. O factor 50, antialérgico. A Epiderme, a Pele, a Camada, o Órgão, irritado, escaldado, queimado, começa a incomodar. A doer. A arder. Mesmo com o corpo atirado a um banho frio, a pressão da água é um enxame de agulhas. Começa a depelar, pequenas partes, quase transparentes, deixando pedaços descoloridos, deixando vontade de com as unhas arrancar mais um pouco. Muda. Muda a Epiderme. Muda a Pele. Muda a Camada. Muda o Órgão.

Escrever por vezes é a ausência da Epiderme Escrever por vezes é a ausência da Pele Escrever por vezes é a ausência da Camada Escrever por vezes é a ausência do Órgão


[ . ]

22 de maio de 2012

Notebook, # 4.


A noite, em Laços, por tua pele Estrelada. 




Unir todas as Estrelas que te cobrem: surges-me como Constelação.


Edit.


o ar morno que nos rodeava
o mundo que implodia

barulhos pessoas carros cimento bancos cães
nada importava éramos duas personagens em um filme mudo

e as cores obedeciam-te

a urgência de beijar-te em fome
rendendo-me para a gentileza


naquele momento fiz amor contigo com a minha boca


as nossas bocas
[im]
perfeitamente encaixadas docemente a fazerem amor




a beleza de um beijo ultrapassa poesia líquida


[ . ]


21 de maio de 2012

Aiming.


O som da água era uma sinfonia, sentados nas escadas que rasgavam o céu, enquanto escrevia toda a Poesia de e. e. nos teus pulsos e dentro dos teus lábios.
Os teus gestos, perfeitos, de bailarina.

Rodopias-me.







19 de maio de 2012

17 de maio de 2012

Notebook, # 2.


Confissão. Só a ti e de joelhos


[ . ]


Top floor.


A tela do teu silêncio pendurada no tecto do meu quarto. Pintada com os teus dedos, com a tua boca, com os teus pés.

Pálida.

Lá fora, fora da janela, fora do mundo, arde a cidade.


16 de maio de 2012

Barely.


Abro e fecho os Livros da Casa na tentativa de entibiar a involuntariedade de lamber todas as tuas imagens.





Notebook, # 1.


Agarro o meu coração para pulsar entre os meus dedos. Acalmar um pouco esta calamidade colorida que me provocas.
Agasalho-me na sombra dos teus lábios: os teus fios de saliva, hoje, são os meus cobertores


[ . ]

Quasicrystal.


Sentada, do outro lado do firmamento, peço-te:

- Deita-me. Humedece as tuas mãos pela tinta de uma caneta. O meu peito. Abre-o. Força as tuas unhas pelas minhas costuras. Rasga-o. Tal como fazes com o papel de embrulho de uma prenda, com a ponta dos teus pés a saltitar de euforia, arrancas o papel colorido de uma só vez. E deixa a tinta de tuas mãos a babar para dentro dele. Transforma-me em uma sombra desligada do chão. Toma-te por minha.

Passo horas, assim, com tuas mãos em meu peito, a olhar para uma folha em branco. A absorver o seu sentido de "claridade". A absorver o seu sentido de "limpeza". A absorver o seu sentido de "e". A absorver o seu sentido de "ruído". Branco. Apenas e só branco.

É com naturalidade que procuramos assumir uma determinada ordem. Ou impor. Ou até criar. Ordem ajuda a identificar os comportamentos, os objectos, os pensamentos, as limitações, as barreiras. Ordem é a parteira da Esperança e da sua prole.

De joelhos, acendes-me um cigarro. Não me moves, nem tentas. Levas o filtro até mim, deixando-me respirar as ondas de fumo acinzentado. Repetes este movimento inúmeras vezes até o cigarro se apagar.

Elevas o teu corpo, observo toda a gentileza dos teus movimentos. Os pés descalços. O som dos teus pés descalços. O eco dos teus pés descalços. Não és tu que usas esse vestido vermelho, o vestido usa-te, deixando a forma dos teus ossos, a forma da tua carne, ser o seu particular cabide. Uma segunda e nova pele.
Deixo de te ver, deixo de te observar. Sinto os teus passos próximos da minha cabeça. O teu pé direito pelo canto do meu olho direito, o teu pé esquerdo pelo canto do meu olho esquerdo. Ouço o teu corpo a descer. Ouço a forma como te sentas. Deslizas para perto de mim sentada na madeira. A minha cabeça entre as tuas coxas. A minha face tapada pelo tecido. A luz que me rodeia ganha tonalidades vermelhas, transparentes, difusas, quentes. A minha respiração a inflamar o tecido. Suspiras entre um sorriso.

- Quero-te para meu Capuchinho.

Levas a mão dentro do vestido, deleitada, à procura da minha barba. As tuas unhas brincam com os meus pêlos espessos. Reparo que na varanda a chuva tem nome. Chama. Grita. Geme. As fissuras da noite ganham vida em meu olhos, em teu vermelho, a vontade imensa de recortar pedacinhos do teu sorriso e remendar a noite.

Em impulso salto da minha imobilidade, paro-me em frente dos teus olhos. Olho-te, procuro-te, quero-te como um animal esfomeado. Com a vontade de te caçar, de te assombrar a palpitar.
Levanto-te, abro o acesso até à varanda, inspiro a noite.
Pego em teu braço, arrasto-te até lá fora.
De costas para mim, apoio as tuas mãos no corrimão molhado. Ficamos imóveis, a chuva a ensopar a nossa pele. As nossas bocas. A ensopar o meu peito aberto.
Sedento, em rapidez, liberto-te da tua segunda pele. Ouço o som da chuva a cobrir a linha do teu pescoço. Lentamente começo a inclinar as tuas costas, reparo como a cidade brilha seus olhos amarelados por tua cintura. Não libertas um único som. Nasces, aqui, como uma Deusa feita de Vidro, pronta a ser adorada.
Sou inundado. Inundado de fé, inundado pela vontade de acreditar, inundado pela vontade de não explicar. Devoto, ajoelho-me, as minhas costas a sentirem o ar quente em fuga da casa, encaixo a minha boca no fundo das tuas costas, abrindo-a, bebendo a chuva que desce, que escorre, que desliza, por tua espinha, por tua pele, por tuas formas, por tuas costas transformadas em borboleta, por tuas costas transformadas em copo.

Bebo o teu paladar. Bebo os teus pecados. Bebo-te.

Subo por ti como se fosses uma falésia, cravando as minhas unhas no espaço das tuas costelas, friccionando-me contra a tua crueza, com meu bafo quente, intermitente, nervoso, a preencher-te, com todo o cuidado, com toda a precisão, se uma mão me falha não tenho nenhuma corda para segurar-me. Subo. A linha que nos separa é ténue, invisível. Chegado ao teu ouvido reparo na claridade de tua face, na cristalina forma que espelhas nas gotículas.

A tremelicar, confesso-te:

- A única palavra que quero ouvir de teus lábios cerrados é um Foda-se.




Respondes: 


- Reza-me


[ . ]


Take the Train.


Quando entro, consciente, é tarde demais: 

                    Sou uma folha de veludo onde afias as tuas unhas limadas.

És-me como uma catástrofe pronta a acontecer


[ . ]


Reach for a deep breath.


queimam os olhos da Cidade em tons de fogo claro
lanças um sorriso enquanto nos aquecemos ao som desta fogueira

desenho o teu corpo por uma linha transparente
as tuas formas a moldarem palavras
no desflorar dos teus fios de saliva enlaçados em minhas unhas

quero algemar o teu coração
algemar na ponta da minha língua
algemar dentro da minha boca
guardar-te morna tépida suave

escalo para a superfície da tua pele
peço-te

deixa-me deixa-me asfixiar o mundo com teus cabelos


[ . ]


Tuesday.


Vou caçar-te. Caçar-te entre a fúria e fome de rasgar, de raspar, de arrancar a película que cobre os teus lábios de outro paladar. Vou ouvir crepitar e dançar no brilho cristalino das suas faíscas. Reencarnar a Inquisição. Vou. Caçar-te.



You could fucking eat him! He's just A boy!









You could eat him. He's a boy. You say your husband is just no good to you. His Jew-Mama guards his sweet sex like a pearl. You have one baby, I have two. I should sit on a rock off Cornwall and comb my hair. I should wear tiger pants, I should have an affair. We should meet in another life, we should meet in air, Me and you.

- Sylvia Plath